Por Elisa Rodrigues Afonso...
Nota Introdutória
Antes de vos dar a conhecer Algoso,
gostaria de referir que é com enorme satisfação que escrevo este post. Em primeiro lugar, por ser sobre a
minha terra e, em segundo, porque me foi pedido por uma amiga muito especial J
Algoso é uma aldeia
transmontana, situada no concelho de Vimioso e distrito de Bragança, que tem
como anexa a povoação de Vale de Algoso. Outrora denominada Ulgoso e Ylgoso, foi,
em tempos remotos, vila e sede de concelho, albergando os concelhos de Miranda
do Douro, Mogadouro e Vimioso.
Está situada numa planície e, como em todo o nordeste transmontano, o
seu clima é agreste no inverno e muito quente no verão, fazendo jus ao ditado
popular: “Nove meses de inverno e três de inferno”.
Para
mim, é sobretudo a terra dos meus antepassados, das minhas raízes e, modéstias
à parte, tem um grande património histórico e cultural, que, seguidamente vos
dou a conhecer.
Vista panorâmica de Algoso |
Monumentos
Castelo
Algoso tem como ex-líbris o
seu belo e imponente castelo do séc. XII, que se avista desde várias serras e
concelhos vizinhos. A propósito deste facto, recordo-me do entusiasmo do meu
pai, quando vamos de viagem para Algoso, ao referir sempre, numa aldeia do
concelho de Macedo de Cavaleiros: “Estamos a chegar, já conseguimos ver daqui o
castelo!” J
O castelo de Algoso situa-se no monte da Penenciada, numa altura de
cerca de 600 metros, tendo sido construído por Mendo Bofino (nalguns documentos
encontra-se também Rufino), ao serviço de D. Sancho I. Este castelo foi o
centro político-militar da Terra de
Miranda, entre os rios Douro e Sabor, tendo sido entregue, em 1224 aos
cavaleiros da Ordem do Hospital, por D. Sancho II. Domina uma vasta extensão do
planalto mirandês, e foi denominado como “o coração das pedras” pela colecção
“Portugal passo a passo”, aparecendo logo na primeira página do livro referente
à região de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Várias perspectivas do castelo de Algoso |
Desde o castelo de Algoso podem-se contemplar, para além de uma bela
paisagem, várias aldeias vizinhas, dos concelhos limítrofes de Mogadouro,
Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro e Bragança, ou até mesmo a Serra da
Sanábria, em Espanha. Além disso, é de salientar a vista da belíssima ponte
romana, construída na Idade média, sobre o rio Angueira, e à qual se tem acesso
a pé, por jipe, ou tractor, devido ao caminho ser um pouco irregular e em terra
batida. Junto a esta ponte, ainda subsiste parte de uma calçada romana. Para
uma melhor visualização desta, aconselho o visionamento do vídeo (aqui).
Ponte Romana, com o castelo a “espreitar” por detrás das fragas, ao cimo |
Recentemente, o castelo foi sujeito a um projecto de reabilitação, que
envolveu vários estudos arqueológicos, muito importantes para o aprofundamento
da história da aldeia, remontando ao período calcolítico, idades do bronze e
ferro. Foi classificado como imóvel de interesse público, pelo IGESPAR, e conta
com um centro de acolhimento a visitantes e de um núcleo interpretativo e museológico,
situado no largo do pelourinho da aldeia.
A uns 50 metros do castelo, situa-se a capela de Nª Sra. da Assunção
ou do castelo, que foi igreja matriz da aldeia primitiva. Conserva ainda a pia baptismal
desse tempo. Exteriormente, é uma capela simples, com um arco de cantaria a
encimar a porta principal. No interior, encontra-se um enorme quadro
ilustrativo da lenda mais famosa da aldeia, cuja transcrição apresento a
seguir:
“É
tradição muito remota, que andando um lavrador na sua lavoura junto d’esta capella,
ao soltar do seu trabalho buscava um filhinho onde pouco antes o deixara, e não
o encontrando, viu em logár d’elle um repugnante e monstruoso “Crocodilo” que
por intervenção da Virgem elle matou, vomitando a fera no mesmo instante a
protegida creança, milagrosamente sã, salva, intacta, e cheia de saúde. A pelle
do dito reptil, que junto se conserva é prova suficiente de tão potente milagre”.
Exterior da capela de Nossa Senhora da Assunção, Algoso
|
Interior da capela de Nossa Senhora da Assunção, com o quadro ilustrativo da lenda ao lado direito, bem como as peles do crocodilo colocadas na parede. |
Todos sabemos que as lendas têm apenas um fundo de verdade e esta não
é excepção. Quanto a Nª Sra. do castelo, por ter feito este milagre, é uma
figura sagrada de bastante culto em toda a aldeia, tendo inclusivamente dentro
da capela um armário com oferendas dos seus devotos, entre elas figuras de
cera, tranças de cabelo, fotografias, flores e mantos. Eu própria confesso que
doei o meu tricórnio e o bastão de final de curso a esta santa da minha devoção
e da qual fui, com imenso orgulho, mordoma na festa em sua honra, no dia 15 de
Agosto de 2012.
Armário com oferendas a Nª Sra. da Assunção, perto do altar-mor da capela.
Como podem verificar, ainda lá está o meu tricórnio e bastão de final de curso J
|
A mordoma, com o cesto das oferendas, no dia da Festa em honra de Nossa Senhora da Assunção, 2012 |
Procissão à volta da aldeia, na mesma festa, em 2012 |
A caminho do castelo de Algoso podemos ainda encontrar 5 capelinhas,
correspondentes a várias cenas da vida de Jesus Cristo. As pessoas mais velhas
costumam rezar o terço desde o Santo Cristo até à capela de Nª Sra. da
Assunção.
Casa da Câmara e Pelourinho
A Casa da Câmara está situada numa praça da aldeia, ao lado do
pelourinho. Foi sede dos Paços de concelho e cadeia, ainda quando a aldeia era
vila, e, já no século XX albergou as instalações da escola primária, onde os
meus avós, pai e tio fizeram a 4ª classe. Neste momento, podemos encontrar no
edifício as instalações da Junta de Freguesia de Algoso.
O pelourinho, foi construído no século XVI, e é prova da independência
administrativa da freguesia. Recentemente, foi também restaurado, assim como
toda a praça envolvente. Em cima dos quatro braços do capitel está um plinto
com as armas de Portugal, encimado por uma esfera armilar e rematado por um
pequeno disco.
Casa da Câmara e Pelourinho de Algoso |
Igreja Matriz de Algoso
É uma igreja de estilo
românico. Destaca-se na paisagem da
aldeia pela sua bela torre sineira. No interior, é de salientar a magnífica
talha dourada em estilo barroco, do altar-mor, dedicado a S. Sebastião. Esta
igreja foi restaurada em 2013, sendo conservada toda a sua riqueza e traça originais.
Capela da Misericórdia
A casa da Misericórdia de Algoso foi edificada numa antiga capela de Santo António, que havia na aldeia. Esta possuía algumas celas que serviam de hospital, sendo que já em 1747 se encontrava em ruínas. Hoje em dia, apenas é uma capela mortuária, ao lado do cemitério e é da invocação da visita de Nª Sra. a Santa Isabel.
Capela de São Roque
Esta capela foi construída pelos habitantes de Algoso, quando a peste dizimava as populações. Tem uma porta e cunhais de cantaria, e grossas colunas de pedra, que, segundo a tradição popular, foram transportadas às costas pelos homens da terra, como cumprimento da promessa que fizeram, tendo terminado deste modo, a peste que os afectava.
Esta capela foi construída pelos habitantes de Algoso, quando a peste dizimava as populações. Tem uma porta e cunhais de cantaria, e grossas colunas de pedra, que, segundo a tradição popular, foram transportadas às costas pelos homens da terra, como cumprimento da promessa que fizeram, tendo terminado deste modo, a peste que os afectava.
Pormenor do átrio da entrada da capela de São Roque, Algoso |
Capela de São João Baptista
Já um pouco fora da aldeia, encontra-se a
capela de São João Baptista, que possui uma fonte, chamada fonte santa ou de São
João dos milagres, na qual se banhava muita gente no dia de São João e de São
Lourenço, acreditando que a água que de lá provem tem propriedades medicinais.
Algoso fazia ainda parte do Caminho de Santiago, pelo que esta fonte era também
ponto de passagem obrigatória para os peregrinos serem abençoados com a sua água.
Também os estudantes antes de fazerem algum exame, aí se banhavam, acreditando
que São João Baptista os iria ajudar a alcançar bons resultados.
Ruínas do Convento
Em tempos remotos existiu ainda um convento de frades na aldeia, do
qual já só restam ruínas de algumas paredes, que mal se distinguem, devido à
vegetação densa daquele local.
Centro de Acolhimento e Museu
A aldeia conta ainda com um Centro de Acolhimento e um núcleo
interpretativo e museológico, onde se podem ver peças encontradas aquando das
escavações efectuadas na zona do castelo, bem como um vídeo ilustrativo da história
do castelo e da aldeia.
Centro de Acolhimento a visitantes e núcleo interpretativo e museológico de Algoso |
Festas
e tradições
Carnaval
O Ramo é uma tradição cumprida no
domingo antes do carnaval, que comporta um leilão de bolos de fabrico caseiro,
chamados “roscos”. Estes são colocados numa armação de madeira, decorada com
ramos de oliveira e, posteriormente leiloados pelos mordomos. Após este
acontecimento, organiza-se a "corrida da rosca", efectuada por vários
escalões etários. Quem ganhar a corrida, tem direito à rosca (bolo) que encima
o ramo, como se pode ver na fotografia.
Ramo de Carnaval, com os “roscos” distribuídos pelos ramos de oliveira |
Páscoa
O encomendar das almas é uma tradição religiosa, celebrada na Quaresma, na qual se junta um grupo de pessoas (mais idosas) a percorrer as ruas da aldeia, já de noite, cantando em determinados locais.
O encomendar das almas é uma tradição religiosa, celebrada na Quaresma, na qual se junta um grupo de pessoas (mais idosas) a percorrer as ruas da aldeia, já de noite, cantando em determinados locais.
A tradição de “andar as igrejas” ocorre na quinta-feira
santa, e consiste em percorrer as capelas da aldeia, para beijar o senhor na
cruz, tendo início na igreja matriz, a partir do meio-dia. Todas elas são
limpas e arranjadas pelos respectivos mordomos, com panos de linho, rendas,
velas e vasos de flores.
No sábado de Aleluia é também tradição, depois do baile de Páscoa, ir tocar o sino à torre da igreja, como forma de celebrar a ressurreição de Cristo. De notar que, por vezes o barulho é ensurdecedor, principalmente para quem, como eu, mora à beira da igreja e tendo em conta que dura um longo período de tempo.
Ainda na Páscoa, existe a tradição de “tirar o folar”. Formam-se
grupos de rapazes e raparigas que percorrem as casas da aldeia, para, tal como
o nome indica, provarem o folar de cada um.
Corpo de Deus
Nesta
altura existe a tradição de, em cada bairro da aldeia se fazer um altar
religioso. Durante a tarde, as pessoas, em procissão, passam por cada um e
rezam, deitando flores e formando-se um tapete no chão.
Corpo de Deus – altares |
Agosto
No dia 9 de Agosto, é realizada a Feira de São Lourenço em Algoso, onde
as pessoas podem encontrar e comprar diversos artigos, utensílios e produtos da
região.
Em Agosto têm lugar as festas da aldeia. No dia 15, em honra de Nª
Sra. da Assunção ou do Castelo, que é organizada pelos solteiros da aldeia. No
dia 16, compete aos casados realizarem a de São Roque.
Festas em honra de Nª Sra. do Castelo e São Roque, Algoso |
Período de Natal
Gastronomia
Ao
nível gastronómico, destacam-se os pratos à base de carne de porco, como
alheiras e fumeiro regional. Um prato típico desta aldeia e que é, de resto,
também de todo o nordeste transmontano, são as cascas ou casulas (vagem de
feijão seca ao sol no verão) com butelo ou bulho (enchido típico desta zona),
chouriça, salpicão e morcela (feita com sangue de porco, mel e grão de amêndoa).
Pode-se ainda realçar a afamada posta à mirandesa, acompanhada com um bom vinho
da região (maduro - tinto).
Uma verdadeira delícia! J
Fumeiro do Nordeste transmontano e o delicioso prato das casulas ou cascas com o butelo, que possui já uma confraria J.
Em baixo, a posta à mirandesa.
|
Em relação a doces, a tradição impõe que se comam os “roscos” do
Carnaval (bolos cozidos em forno de lenha e feitos com ovos, farinha, açúcar, sumo de laranja e aguardente),e
o famoso folar transmontano, por altura da Páscoa.
Alojamento e Restauração
Quem quiser visitar esta linda aldeia transmontana, tem várias opções
de alojamento, tanto na própria aldeia, como nos arredores.
Em Algoso, é de destacar a Albergaria Ascenção. Para informações mais
detalhadas podem consultar o site (aqui).
Na freguesia anexa a Algoso, Vale de Algoso, existe uma unidade de
turismo rural, a Casa dos Pimentéis (aqui).
Em Vimioso, destaca-se o Hotel Rural Senhora de Pereiras, situado na
estrada Nacional, à saída para Algoso (aqui).
Para finalizar, gostaria de vos aconselhar este vídeo, que contém uma
magnífica apresentação da aldeia:
E muito mais haveria ainda para contar acerca de Algoso, no entanto,
esta é apenas uma recolha de informações que considero mais relevantes.
Para conhecerem mais, podem consultar os sites aqui,
aqui, bem como a página do castelo de Algoso no facebook ou até simplesmente fazer uma
busca na internet com o nome “Algoso”.
Para os amantes de comidas tradicionais e que queriam saber mais
acerca deste prato, podem pôr um “like”
na página da Confraria do Butelo e da Casula. J
E com estas sugestões e informações me despeço, agradecendo, mais uma
vez o convite e esperando que o post
tenha sido do vosso agrado J.
Apelo a uma visita a Algoso e a todo o nordeste transmontano que, por
vezes é um pouco esquecido mas, não deixa, por isso de ser fascinante e misterioso
;).
Ex uma sugestão de escapadinha de fim-de-semana, indo para fora, cá
dentro J
Um beijinho,
Elisa Rodrigues Afonso J
Nota: As fotografias que
constam deste artigo foram retiradas do site e de outras fontes da internet e facebook,
relacionadas com a aldeia de Algoso. Além disso, constam também do mesmo, fotografias
do cd “Vimioso: Freguesia de Algoso”,
edição II, bem como fotos particulares de arquivo.
Não deixem de visitar esta linda aldeia transmontana!
ResponderEliminarE obrigada mais uma vez ao Sweet by Pipinha pela oportunidade! ;)
Para mais informações sobre a região, podem contactar-me, através do e-mail elisamrafonso@hotmail.com :)
Um beijinho *
Bem eu não cnhecia nem nunca tinha ouvido falar em Algoso! Parece ser uma vila mt gira! mt obrigada pela descriçao detalhada Elisa :)
ResponderEliminarObrigada Séli :)
EliminarAgora que já conheces, podes (e deves) fazer uma visita! :)
Sei que sou suspeita, mas acho que vais gostar, principalmente se fores na altura da Primavera, em que os campos estão verdejantes e cheios de flor :)
Presentemente é uma aldeia, mas já foi vila em tempos passados ;)
Um beijinho *